Era uma vez uma linda princesa chamada Vera que se encontrava perdida num bosque longínquo. Esta andava em missão a pedido de seu pai, pois tinha que encontrar um tesouro que o salvaria de uma morte certa.
No meio do bosque encontrou um rio onde se refrescou e matou a sua sede. Ao erguer o seu rosto das águas limpas e transparentes reparou que na outra margem do rio se encontrava uma figura desumana que a olhava fixamente. Esta, preocupada sem saber o que fazer, pensou logo que podia ser aquela mulher maldosa que queria que seu pai morresse. Apesar de tudo, a princesa tentou não ligar à “figura” e seguiu seu caminho.
Durante a viagem, ia ouvindo uns barulhos como passos leves que a afugentava. Olhava para trás, para a frente, para trás, quando de repente vê à sua frente a mesma mulher que tinha visto horas antes. Esta perguntou-lhe:
- Que procuras tu por estas bandas?
- Eu...eu...ando à procura deee...deee…
- Mas afinal o que tens tu a ver com isso?
Esta, nervosa com a resposta da rapariga, diz-lhe:
- Nada, era só por curiosidade e para saber se precisavas de ajuda para alguma coisa.
- Eu não preciso da tua ajuda, por isso deixa-me continuar o meu caminho. Então, sozinha e em paz, seguiu seu destino.
Passado umas horas de caminhada, avistou ao longe um castelo com um ar assustador, que parecia estar abandonado. Ela entrou e aproximando-se lentamente, ia olhando para todos os lados, a ver se alguém a seguia.
Do outro lado do tempo, encontrava-se a tal figura desumana, sentada numa pedra a pensar numa solução para obrigar a princesa a falar, para esta ter a certeza que ela seria a filha do Rei Sapo.
De repente, apareceu-lhe o chefe, que normalmente era tratado por “o Rato Espertalhão”, e pergunta-lhe:
- Já sabes alguma coisa da rapariga?
- Não chefe, ela é teimosa e não fala nada acerca de seu pai.
- Idiota, tu não sabes fazer nada em condições. Vou mandar-te para o castelo das altas montanhas. Aí farás alguma coisa de jeito.
- Por favor chefe, não me mande para o castelo, eu tenho fobia a aranhas.
- Ahahahahah! Tens fobia a aranhas!? Que raio de assistente é que eu tenho?Já sei, uma medricas de bichos com patas peganhentas que mordem.
- Por favor chefe, suplico-lhe, não me mande para lá!
- Está decidido! Não me venhas com lamechices que não voltarei atrás na minha decisão.
Viajando no tempo.
A princesa, cheia de medo, ouviu umas vozes e foi espreitar. Ela aproxima-se, desvia um pouco a porta e, qual o seu espanto ao ver dois mortos-vivos a discutirem um com o outro. A princesa, curiosa, deixou-se ficar, quando sente nas suas costas umas mãos grandes. Ela olha e, dando um salto, grita:
- Socorro, socorro, um fantasma, socorro.
Mas “ninguém” a ouvia.
Quando começaram a chegar os outros fantasmas, ela não aguentou o medo e desmaiou.
Passadas duas horas, a princesa acorda meia atordoada e vê em sua volta fantasmas, sem cabeças, bruxas, esqueletos, etc.
Estando mais desperta, ela diz:
- Não me façam mal, eu apenas entrei por curiosidade!
- Claro que não! A uma menina tão bonita, não lhe iríamos fazer mal, não é colegas?
E respondendo todos em coro, olhando para ela, disseram:
- Claro chefe! Esta criatura será a nossa escrava. Limpará toda a sujidade, desde teias, bichinhos...
- Bichos não, eu tenho …
- Cala-te, tu fazes o que nós mandámos e não refilas! – disse um dos mortos-vivos.
A Princesa pega então num pano e num balde com água, e começa a esfregar o chão.
Esfregou, esfregou, esfregou, até não poder mais, ou seja, esfregou vezes sem fim.
Quando caiu a noite, a princesa já nem sentia as suas mãos de tanto esfregar.,
Então, um dos mortos-vivos declara-lhe:
- Estas muito cansada! Trabalhaste sem parar e sem refilar, portanto, terás uma cama à tua espera.
- Muito obrigado! – agradeceu ela toda contente.
- Anda comigo, que eu levo-te ao quarto onde irás dormir. – ofereceu-se o “Sem-Cabeças”.
Pegaram numa tocha acesa, para vencer a escuridão na parte de baixo do castelos onde se encontravam as selas, e continuaram o seu caminho. Passaram por muitas selas de prisioneiros, e para sua surpresa, a princesa vê numa delas a diaba que tinha encontrado há dias no bosque. A princesa parou a observá-la e de repente vê que ela estava demasiado magra, notavam-se os ossos todos, ...
Ela agora cheia de medo que a fechassem dentro de uma sela, e ficasse ali a apodrecer, fingiu que se tinha aleijado numa pedra e que não conseguia andar mais.
Então o Sem-Cabeças sem saber o que fazer com a rapariga, deixa-a ficar dentro de uma sala, que ficara ali perto.
Ela, com receio que o Sem-Cabeças a fechasse, mente-lhe:
- Não feches a porta que eu tenho asma, e esta sala não tem janelas.
- Está bem rapariga, mas é só hoje, que eu não quero “ouvir” do meu chefe.
Como a rapariga não conseguia adormecer, pôs-se a ver o que a sala tinha.
Procurou, procurou, até que encontrou, debaixo de umas mantas, uma arca. Ela abre-a e repara que ali se encontrava um objecto pouco comum. A princesa pega nele, observe-o com atenção e apercebe-se que era o órgão que seu pai tanto precisava, para o curar da sua doença.
Então, pega no coração e mete-o no bolso da sua saia.
Sem saber o que fazer, sai da sala, e como não tinha ninguém que a ajudasse, lembrou-se da Diaba que devia estar numa sala ao lado.
Descobre-a sem grandes dificuldades e enche-a logo de perguntas: O que fazia ali ? Como veio lá parar? Onde estavam ao certo?
Depois de lhe responder a todas as perguntas, a Diaba desabafa:
- Nunca mais confio no meu chefe. Nunca mais quero ser má. Nunca mais me meto em sarilhos. Nunca mais.
Então a princesa, com confiança, conta-lhe a sua história e revela que encontrou o coração de que seu pai precisava para melhorar, procurando saber se ela também andava à procura do coração.
- Não te preocupes – respondeu-lhe a Diaba- eu ajudo-te a dar o coração a teu pai e tu em troca tiras-nos daqui.
- Combinado!
No dia seguinte, a princesa acorda bem cedo, (antes dos fantasmas) e começa a trabalhar, como habitualmente.
Quando acaba o seu serviço na cozinha, aparece-lhe o Sem-Cabeças que lhe pergunta:
- Onde vai a menina?
- Eu vou...
- Anda, desembucha!?
- Vou limpar as selas. Ontem quando passamos por lá reparei que estavam todas sujas.
- Está bem, mas não te demores.
Quando se aproximava das selas, reparou que vinha o chefe dos fantasmas todo chateado, então a princesa tentou não ligar e seguiu caminho.
Quando se aproximaram ainda mais, o fantasma vira-se para ela e pergunta-lhe:
- Que fazes tu aqui? Alguém te deixou vir para aqui?
- Eu vim limpar as selas e avisei o Sem-Cabeças que vinha para aqui.
O fantasma não acreditou na rapariga e deixou-se ficar a observá-la, pois ele sabia que o Sem-Cabeças era demasiado “meigo” para os prisioneiros e não era suficientemente mau como os outros.
A princesa pensava para si:
- Quando é que o chefe se irá embora!?
De repente ele vira-se e diz-lhe:
- Vou beber, que estou cheio de sede, quando voltar quero isso tudo limpo.
A princesa despachou-se a ir ao encontro da Diaba e, em conjunto, combinaram o plano de fuga, que ocorreria no dia seguinte. Traçado o plano, a Princesa apressou-se a subir, antes do chefe chegar lá baixo, e desconfiar de algo.
Chegada a noite, a princesa foi deitar-se. A meio da noite, sentiu um barulho que a fez despertar do seu sonho. Levantou-se sobressaltada e foi ver o que tinha acontecido. Dirigiu-se sem reflectir à sela da Diaba e qual o seu espanto ao encontra-la morta no chão ensanguentado. Começa a gritar e a pedir ajuda. Os fantasmas, furiosos por os ter acordado, acodem aos seus gritos.
Quando viu a princesa a chorar, o Sem-Cabeças aproxima-se dela, e pergunta-lhe:
- O que se passa, princesa?
- A diaaaabaaaa morrreuuuuu!
- A diaba o quê? – disseram todos.
- Sim ela morreu! – retorquiu a princesa.
- Eu não consigo ver gente a morrer, acho que vou...
- Não princesa, não, não...
Mas era tarde. A princesa engolira o que parecia ser veneno e jazia agora aos pés dos guardas.
Pegaram nas duas pobres raparigas e puseram-nas fora do castelo.
O plano tinha resultado. A diaba e a princesa todas contentes, correram dali para fora e partiram a toda a velocidade ao encontro de seu pai.
A meio do caminho, a diaba vira-se para a princesa e diz-lhe:
- Tu salvaste-nos, agora é a minha vez de te recompensar.
Quando chegaram à casa da princesa, seu pai estava prestes a morrer, só lhe restavam alguns sopros de vida, então a princesa pega no coração e coloca-o no aparelho que seu pai usava. Esperavam ver logo o pai a melhorar, mas nem um sinal.. Começaram então a cair grossas lágrimas pelos olhos cor do mar da princesa. Mas aconteceu que uma das lágrimas caiu certeira sobre o peito de seu pai, o que o fez despertar do coma onde acabara de megulhar.
O Rei Sapo abre os olhos e vê diante de seus olhos ainda nublados, a Diaba e a princesa abraçadas.
- Como é que vocês se tornaram amigas? – perguntou o Rei Sapo
- É uma longa história! – disse a princesa – Agora descansa. Depois conto-te tudo ao pormenor.
“E viveram felizes para sempre!”
(Ao contrário dos outros fantasmas que viveram infelizes para sempre quando descobriram que tinham sido enganados.)
Catarina Delgado nº5
Mónica Parente nº19