Como já era hábito, Mariana acordava de manhã com pelo menos uns vinte pássaros a cantar na sua janela. Ela já não se sentia bem ao acordar sem os ouvir . Quando se levantava, abria as cortinas de cor fúscia para observar as criaturas maravilhosas a cantar aquela linda melodia. Havia pássaros de todas as cores, azul, roxo , rosa , etc . Mas havia um que se destacava. Era um pequeno pássaro, de uma cor muito bela, um castanho com manchas verdes, até fazia lembrar os fatos militares. Mariana gostava imenso desse passarinho, era único para ela. Um dia , com tanta pena daqueles pobres passarinhos sem uma gaiola para se resguardar do frio, pediu à mãe que deixa-se construir uma gaiola para os pássaros com as ferramentas de carpinteiro do pai. A mãe, com certeza não achou muita piada à ideia, mas Mariana explicou-lhe que não se sentia bem com tantos pássaros em sua janela, sem lar. A mãe claramente compreendeu e deixou que a filha construísse a gaiola. Passados alguns meses, Mariana ainda só tinha feito algumas grades, então percebeu que necessitaria da ajuda do seu pai. Ao jantar, um pouco receosa perguntou ao pai se a poderia ajudar, e é evidente que o pai teve a mesma reacção que a mãe, mas por fim, concordou. Demoraram quatro semanas de trabalho intenso para concluir a construção. No dia da conclusão, Mariana adormeceu muito feliz e bem-humorada. Na manhã do dia seguinte, pôs-se de pé, levantou os braços no ar, bocejou, e fez o costume. Abriu as cortinas muito cuidadosamente e de repente começou correr deseperada pelas escadas a chorar, a reclamar que os pássaros que praticamente já lhe pertenciam, tinham fugido. Ficou arrasada. Durante semanas questionou o porquê de eles fugirem naquele preciso dia, até que uma noite, depois de estar horas sentada no baloiço cor-de-rosa, a reflectir um pouco sobre o que tinha acontecido há meses atrás , se apercebeu que eles viram que ela estava a construir uma gaiola para eles, e que nela não seriam felizes , entretanto decidiram mudar-se . Ninguém , nem mesmo um animal irracional são felizes fechados em gaiolas , jaulas ou seja o que for , e essa foi a conclusão que a Mariana tirou , e simplesmente ficou feliz ao pensar que naquele momento estariam num sítio melhor do que uma gaiola .
Marta Sousa, Nº 16, 7ºC