quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

O meu nome é Eva



Sabem aquele tipo de rapariga que é considerada a mais feia de todas, que tem uma irmã que parece prostituta, um irmão mais novo sem raciocínio e uma irmã mais nova que pensa ser um cavalo? Bem, essa sou eu. O meu nome é Eva.

Estava preparada para começar mais outro dia secante na escola , e a minha mãe entra o meu quarto aos berros a dizer que a Marina, a minha irmã mais nova estava a comer erva do quintal. E lá tinha eu de gritar a dizer que ela não era um cavalo e que os cavalos eram animais . Como se já não bastasse ter de gritar com a minha irmã mais nova, tinha de ouvir a minha mãe a discutir com a Cátia , a minha irmã mais velha sobre as roupas dela, parecia que estava de roupa interior . Tinha vestido uma saia que mais parecia um cinto , e um top que até se via a cor vermelha do soutien . Quando finalmente a Cátia decidiu mudar de roupa , tive um daqueles momentos únicos , de paz e tranquilidade , de certo tinha de vir o Igor , o frustrado do meu irmão de 13 anos, a resmungar que não encontrava os preciosos cd’s dos Guns N’ Roses, a loucura dele, ou seja, o Cristo, que era eu, tinha de os procurar . Já me metia nojo estar em casa, e finalmente, sorrateiramente, consegui escapar daquele inferno e ir para o meu outro inferno, a escola . Nunca tinha percebido porque me tratavam assim . Não havia razões mas por mais que eu pensasse assim o resto do mundo não . Deviam pensar “aquela é uma anormal, vamos gozar com ela!”, sem se aperceberem que estão a ferir os sentimentos de alguém, mas na verdade, já não me interessava pensar nisso, já era hábito as meninas bonitas e populares rirem-se quando eu passava, o Bruno, o mauzão da escola meter-se comigo na cantina, e já era hábito os professores odiarem-me . Parecia uma renegada, e ignorante . A meio da aula de educação visual, enquanto o professor explicava qualquer projecto para um acampamento, uma empregada bateu à porta e entrou estrondosamente com uma nova aluna, chamada Maria João . Ela era linda e tinha um corpo fantástico, a meu ver, e não só, porque o Bruno começaram logo com os piropos e assobios . Ela andava como uma modelo e a cara dela tinha as medidas perfeitas . Eu era uma renegada, e como tal, ninguém se sentava à minha beira nas aulas e sem mais lugares livres a Maria João não teve escolha . Fiquei mais de metade da aula a olhar para ela, ela era mesmo linda, até que ganhei um pouquinho de coragem e disse-lhe um “Olá” com uma voz rouca e envergonhada . Ela sorriu para mim , cumprimentou-me e perguntou-me como me chamava . Ainda lhe respondi com um bocado de timidez mas perdi-a com o resto da aula . Ela vinha da Madeira , e veio para cá porque os pais se separaram e a mãe dela não se queria reencontrar com o pai . Finalmente tinha alguém com quem partilhar as mágoas de ter os pais separados, já que os meus irmãos nem disso queriam saber . No intervalo de almoço , apresentei-lhe a escola , e o meu local preferido na escola , a enfermaria . Não percebi o porquê de ela dizer que não gostava de ir lá , deixou-me pasmada e parece que deixei de gostar tanto dela , mas não podia desperdiçar a minha primeira amiga , sem ser a minha cadela . Fomos até à cantina , e ela não comeu e contou-me que era vegetariana , então fomos para um banco do pátio comer . Aquelas comidas eram nojentas , era tofu ou qualquer coisa parecida . No final das aulas , ao ir para casa , estava eu a falar sobre os meus irmãos , e , repentinamente, as meninas populares agarraram-na e levaram-na com elas . A Maria João olhava para trás a pedir desculpa , e eu , mais uma vez sozinha fui para casa . No dia seguinte de manhã, lembrei-me que tinha um papel sobre o acampamento para a minha mãe assinar . Entreguei-lhe o papel , e ela perguntou-me de que era , é evidente que eu não me lembrava , pois estive a aula toda distraída , mas no papel explicava que era um acampamento no âmbito das disciplinas de Visual e Língua Portuguesa . Que era, desenhar as roupas, cenários e escrever um guião . Ia haver um espectáculo . Cheguei à escola e a Maria João veio pedir-me desculpa , e tão zangada como estava fui para a enfermaria queixar-me que estava doente , o que era totalmente mentira . Os dias assim foram passando , e , um dia , a minha mãe ligou-me a dizer para ir buscar a Marina e ir para casa . Esperei duas horas na porta do infantário e, com a sorte que tenho , apareceu o Bruno, a chatear-me . Quando finalmente cheguei a casa , a minha mãe , com cara de séria , disse-me que tinha um namorado , claro que não me importei , até ao momento que ela mo apresentou . Era um camionista . Era alto, magro, moreno, cabelo branco e tinha os dentes podres, e como se não bastasse tinha um sotaque de azeiteiro . Fiquei lixada e fechei-me no quarto . O Rui , o tal camionista , tentou falar comigo, mas nem sequer o podia ver à frente . Até chegar o dia do acampamento, saía sempre de casa sem que ninguém notasse e na escola escondia-me . No dia do acampamento, fiz a mala , e com o resto de dignidade que tinha , despedi-me da minha mãe . Saí de cada e quase que perdia o autocarro, mas cheguei a tempo . O parque de campismo era lindo, mas não era para apreciar, era para trabalhar a sério . Claro que , com a minha sorte, no meu quarto tinha de estar alguém de quem eu não gostava, é claro! Foi a Maria João . Parecia de propósito .

Um dia , à noite, queria dar um passeio, e não encontrava casaco , e a primeira coisa que me veio à mão foi o robe da Maria João . Vesti-o e sentei-me num banco junto ao lago . De repente senti uma mão no meu ombro, que me levantou e me beijou com uma paixão inigualável . Era o Bruno . Ele pensava que eu era a Maria . Envergonhado correu . Numa altura , ao almoço, o Bruno, para dar a perceber que não gostava de mim , atirou-me com esparguete, portanto dei-lhe um estalo, e ele, ainda mais furioso beijou-me e eu corri, aos berros até ao quarto . Fechei-me durante horas, até que no dia seguinte a professora me chamou para os ensaios . Lá fui eu , e com tanto , e com tanto estudo, não me saiu nem uma palavra e efectivamente trocaram-me pela Maria . Fiquei em baixo , muito em baixo , mas não se podia fazer nada . Como sempre tive muito jeito para a escrita e para o desenho , escrevi o guião e desenhei as roupas e os cenários . Ficaram fabulosos ! Toda a gente adorou . Mas mesmo assim , continuei triste por causa do Bruno . No dia do espectáculo , à noite , segui a Maria até à cabine , e a ouvi-a resmungar com a mãe , porque não vinha ver a peça . Então , eu decidi ligar à mãe dela , mas a Maria João ouviu , e chateou-se . Fiquei tão triste que liguei para o Rui para me vir buscar , ele disse que não, mas veio até a mim com umas roupas muito bonitas e com a família toda e foram assistir . Deram-me coragem para pedir desculpa à Maria João e ficou tudo bem . No fim da peça , o Bruno veio até a mim e declarou-se mas não namoramos porque nós os dois concordamos esperar mais um pouco , e a verdade é que agora levo a vida que sonhei , família unida , amor , amizade e tudo o que sempre quis alcançar , e a minha irmã , finalmente , ganhou algum juízo .

Marta Sousa Nº16 7ºC