terça-feira, 29 de março de 2011

Sou Uma Patinha Feia




Olá, chamo-me Luísa e tenho 13 anos. Sou, definitivamente, uma betinha, uma patinha feia. Tenho cabelo comprido, mais ou menos até aos cotovelos. Tenho uma franja esticada e uns grandes óculos redondos. Tenho também os dentes um bocado tortos. Por isso, uso um aparelho de arame. Ou seja, tenho os dentes atravessados por dois arames. As minhas roupas, são normais. Nem muito bonitas nem muito feias. Na escola, todos me tratam mal! Chamam-me burra, totó, betinha, entre outras coisas piores.

Não posso dizer que tenho uma vida feliz. As únicas pingas de felicidade da minha vida são as minhas excelentes notas escolares e a minha família. Não tenho praticamente amigos nenhuns. Quero dizer, na escola anda um rapazinho, que tem um problema mental, que gosta muito de falar comigo. Eu… nem por isso. Ele tem a minha idade, mas comporta-se como tivesse só cinco anos. As vezes fujo dele! Ele tem problemas mentais, não me censurem!

A minha vida é simples: Saio de casa cedo e vou para a escola. Da escola venho para casa e estudo até á noite. Depois vou dormir, e quando acordo, tudo volta ao mesmo.

Um dia pus-me a pensar. Porque será que ninguém gosta de mim? Pensei durante horas. E tirei várias conclusões. Não gostam de mim porque sou feia e as minhas roupas também! Não gostam de mim porque, simplesmente, não me conhecem! Não gostam de mim por causa da minha personalidade! Ou não gostam de mim porque eu tiro boas notas e é inveja!

Tirando tantas conclusões e sem saber qual delas é a certa. Decidi por fim a todas.

Peguei numa tesoura e cortei o cabelo. Não o cortei certinho, cortei ao calhas. E por sinal, até ficou muito bem. Fiquei com um ar mais fashion! Tirei os óculos e troquei-os com os da minha mãe, são mais pequenos, bonitos e a graduação é quase igual. Deixei-me ficar com o aparelho. Depois, peguei nas minhas roupas, pintei-as, cortei-as e juntei uns acessórios como: cinto, botão, pregadeiras… Decidi ser mais fixe. Decorei umas anedotas. Pesquisei respostas provocadoras e decorei-as todas. Decidi também tirar piores notas.

A operação começou: Cheguei à escola, passei pelas raparigas da minha turma e acenei-lhes. Pisquei o olho ao rapaz mais giro da escola e fiz uma rasteira ao rapaz mais magro da equipa de futebol. Pouco tempo depois tinha a escola inteira a minha volta. Era a rapariga mais popular! Mas o difícil foi estar perante um teste. Saber perfeitamente que Ptolomeu foi o defensor do modelo geocêntrico e pô-lo como defensor do modelo heliocêntrico. Nunca pensei que tirar negativa fosse tão difícil!

O tempo passou e eu fui-me tornado cada vez mais arrogante. Cada vez masi convencida e cada vez mais mandona que toda a gente começou a deixar-me. Então fiquei sozinha! Percebi finalmente!

Antes, vestia roupas que gostava, tirava positivas e tinha um pequeno amigo.

Agora visto roupas esquisitas, tiro negativas e não tenho amigos.

Afinal, ser patinha feia não é assim tão mau!

Susana Lage, Nº24, 7ºC