terça-feira, 5 de abril de 2011

Revolução da Vida



Quando eu tinha 22 anos não passava de um pequeno marginal, que só andava pelas ruas a fazer asneiras. Eu não queria trabalhar, não queria fazer esforços para ter o meu dinheiro ao fim do mês. Apenas queria passar o dia a vadiar e arranjar dinheiro sujo. Eu tinha bastantes amigos na verdade, mas nenhum tinha um passado limpo. Para dizer a verdade eu não era feliz. Apenas fazia aquilo por não ter estudos para arranjar um trabalho e ganhar honestamente o meu dinheiro.

Um dia estava a assaltar uma caixa multi-banco, mas, infelizmente para mim alguém me estava a observar e não hesitou em chamar a polícia, que chegou rapidamente …Eu ainda tentei fugir, mas não tive hipóteses e fui parar à esquadra. O comandante da esquadra tinha de tomar uma decisão difícil: mandar-me para tribunal ou dar-me mais uma oportunidade. Acontece que eu já tinha sido libertado várias vezes, tinha prometido dezenas de vezes emendar, mas eu fraquejava sempre. Isto tornava a sua decisão ainda mais difícil. Talvez com pena da minha triste sorte, fui mais uma vez ilibado, mas seria a minha última oportunidade e desta vez seria diferente. Disseram-me que tinha que arranjar um emprego honesto até ao final do mês.

Eu estava aflito, ninguém me ia aceitar num trabalho com as minhas poucas qualificações e o meu historial. Pensei até em sair do país, mas não tinha dinheiro para tal.

Já voltamos a mim…Agora vou falar-vos de um tubarão. Era um tubarão branco com uns dentes afiados como serras. Este tubarão era um matador nato, como qualquer outro tubarão, mas ele não matava para se poder alimentar. Não era uma questão de sobrevivência. Ele matava por satisfação. Era o rei dos oceanos e foi criando alguns inimigos, dos quais se destacam um grupo de baleias que há muito se queria vingar de tal monstro. Numa noite muito fria, este grupo de baleias atacou de surpresa o malvado tubarão. Este era forte, e até deu bastante luta, mas as baleias eram muitas e o tubarão acabou por ser derrotado. Inconsciente e ferido de morte, foi parar, levado pela corrente, à costa de uma praia.

Voltando a mim. Um dia recebi a informação de que um primo meu de segundo grau que eu nunca tinha conhecido, tinha falecido. Este primo não tinha nenhuma família directa, pelo que eu era o seu único herdeiro. Fiquei surpreendido com a notícia, mas feliz pois, pela primeira vez na minha vida, tinha conseguido dinheiro de uma forma honesta. Ainda mal refeito da notícia, fui até à praia passear. Sentado na areia pensava na minha sorte, mas também sabia que isto não resolvia o meu problema…ainda tinha de descobrir uma forma de conseguir emprego. Andando pela praia, deparei-me com um tubarão…aquele tubarão….o que era um assassino nato. Vi que ele estava bastante ferido, e senti um aperto no coração…Ver um animal tão poderoso neste estado!... Os animais eram uma paixão para mim, tinha de fazer algo. Decidi começar a investir o meu dinheiro herdado numa causa justa. Chamei logo um veterinário, o qual tratou excelentemente do tubarão, mas ele tinha que ficar uns dias a recuperar. Foi aí que me surgiu uma ideia! Como tinha dinheiro, decidi criar uma associação de ajuda aos animais. E a minha ideia concretizou-se. Criei o meu próprio emprego…

Comecei por comprar uma casa, numa grande quinta onde poderia guardar e tratar os animais feridos. De seguida mandei construir aquários, jaulas, gaiolas ….e comecei a recolher animais feridos ou abandonados. Tornei-me famoso nas redondezas, uma coisa que nunca tinha esperado na minha vida inteira. Como tinha finalmente um emprego também a polícia me deixou em paz.

O tubarão ficou com alguns ferimentos graves, irrecuperáveis e eu, claro, acabei por ficar com ele.

Eu agora era feliz…e tinha o meu coração a palpitar de alegria.

Dois anos depois, eu tinha salvo tantos animais que não podia sequer contá-los. Era uma sensação maravilhosa! Eu tinha passado de marginal a boa pessoa. Sentia-me útil!

Agora tenho 78 anos e já não posso tratar dos meus queridos animais sozinho…. Mas estou descansado, pois sei que o meu filho ( Sim, entretanto casei e tive um filho, imaginem!) continuará o meu trabalho e sei que ele não me desiludirá porque partilha do meu amor pelos animais.



Filipe Pereira, nº13, 7ºC